As lentes de contato podem danificar a córnea e causar outros problemas oculares, especialmente quando o paciente não segue as recomendações do oftalmologista e nem do fabricante do produto.
De acordo com um estudo publicado no Plos One, estima-se que há cerca de 140 milhões de usuários de lentes de contato em todo o mundo. Nos Estados Unidos, dados do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), apontam que 1 em cada 6 pessoas opta por usar lentes em vez dos óculos de grau.
Apesar dos benefícios das lentes de contato, que podem facilitar inúmeras atividades do dia a dia, o número de complicações associadas ao mau uso desses dispositivos é preocupante. Por isso, foi criado o movimento Setembro Safira, que visa conscientizar a população sobre o correto uso das lentes de contato.
Entenda por que as lentes de contato podem danificar a córnea
Segundo Dra. Junia Marques, oftalmologista especialista em Córnea e Doenças Externas, Catarata e Cirurgia Refrativa, as lentes de contato podem alterar a fisiologia da superfície ocular, especialmente da córnea. “Durante o uso das lentes, há uma interação constante de fatores ambientais e físicos nos tecidos oculares. Um dos problemas mais comuns é a falta de oxigenação adequada na córnea, que pode aumentar o risco de infecções, inflamações e irritações”.
“Outra condição bastante prevalente em usuários de lentes de contato é o desenvolvimento da síndrome do olho seco. Uma superfície ocular saudável precisa estar sempre lubrificada e nutrida pelo filme lacrimal, popularmente chamado de lágrima. Contudo, dependendo do tipo de material, as lentes podem atuar com uma espécie de esponja, retendo o filme lacrimal”, explica a médica.
“Isso, por sua vez, pode levar ao ressecamento da superfície ocular e desencadear sintomas como secura ocular, ardência, coceira, vermelhidão, entre outras manifestações. Para além disso, essa falta de lubrificação pode causar microlesões no tecido corneano, deixando a córnea mais propensa à contaminação por micro-organismos”, completa Dra. Junia.
Por fim, também pode ocorrer a aderência de corpos estranhos nas lentes, como poeira, areia e outras partículas, que podem causar arranhões na córnea.
Ceratite por Acanthamoeba – 9 em cada 10 pacientes são usuários de lentes de contato
Apesar da ceratite por Acanthamoeba ser uma condição pouco prevalente na população em geral, 93% dos casos ocorrem em quem usa lentes de contato. Os principais fatores de risco são: praticar atividades aquáticas usando as lentes e realizar a limpeza das lentes e do estojo com água de torneira. Outro fator de risco importante é usar as lentes de forma ininterrupta (dormir ou passar vários dias sem retirá-las), o que pode aumentar em até 15 vezes a chance de ter uma ceratite por Acanthamoeba.
“A Acanthamoeba é uma ameba (protozoário parasita) presente de forma abundante em vários habitats, especialmente na água doce, que se reproduz sem precisar de nenhum hospedeiro. É um micro-organismo extremamente resistente a condições extremas, bem como a medicamentos. Na fase inicial da ceratite, a Acanthamoeba adere à superfície da córnea, liberando toxinas que podem destruir a camada mais superficial do tecido corneano”, comenta Dra. Junia.
Geralmente, a ceratite por Acanthamoeba atinge um dos olhos e se manifesta, inicialmente, num quadro de dor ocular intensa. O paciente também pode apresentar embaçamento visual, vermelhidão, sensação de areia nos olhos, sensibilidade à luz, lacrimejamento e secreção purulenta.
Use bem para usar sempre
“As lentes de contato são recursos essenciais na área da oftalmologia. Há muitos pacientes que precisam delas para enxergar melhor, bem como temos lentes terapêuticas, ou seja, para tratar certas doenças e condições oftalmológicas. Nesses casos, portanto, as lentes são imprescindíveis. Dessa forma, o mais importante é educar o paciente sobre o uso responsável das lentes para prevenir condições que ameaçam a visão”, finaliza Dra. Junia
Principais recomendações para o uso responsável das lentes de contato
- Não compre lentes de contato por conta própria, ou seja, procure um oftalmologista para prescrever as lentes e para orientar e acompanhar o processo de adaptação;
- Siga as recomendações do oftalmologista sobre o tempo de uso;
- Retire as lentes para as práticas aquáticas, sejam elas recreativas ou esportivas;
- Jamais durma de lentes ou as use de forma ininterrupta;
- Utilize os produtos próprios para realizar a limpeza das lentes e do estojo. Lembre-se que o estojo deve ser trocado entre 4 e 6 meses;
- Lembre-se que soro fisiológico e a água boricada não são produtos recomendados para a higienização das lentes;
- Lave bem as mãos antes de manusear as lentes e os olhos;
- Na hora de colocar e remover as lentes, manuseie as pálpebras com delicadeza, para prevenir lesões mecânicas que podem causar ptose palpebral (queda da pálpebra);
- Caso apresente sinais de secura ocular, peça ao oftalmologista para prescrever colírios lubrificantes;
- Na presença de dor ocular intensa, irritação, fotofobia, vermelhidão e coceira nos olhos, pare de usar as lentes e procure um Oftalmologista.
Dra. Junia Marques é médica Oftalmologista, especialista em Córnea e Doenças Externas, Catarata e Cirurgia Refrativa.