Você já ouviu falar da disfunção da glândula meibomiana (DGM)? Trata-se de uma condição caracterizada por alterações nas glândulas de Meibômio (glândulas sebáceas que se localizam nas pálpebras). Normalmente, na DGM há presença de obstrução dos ductos glandulares, bem como alterações na qualidade e na quantidade do sebo produzido e secretado pelas glândulas meibomianas.
Embora o nome seja diferente e pouco conhecido da população em geral, a DGM tem uma prevalência alta, especialmente em pessoas acima dos 60 anos. Estima-se que 70% das pessoas mais de 60 anos têm DGM. Além disso, a prevalência aumenta com a idade, sendo mais comum em mulheres, especialmente após a menopausa.
Diagnóstico da disfunção das glândulas meibomianas é desafiador
Segundo Dra. Tatiana Nahas, oftalmologista geral e especialista em cirurgia plástica ocular, a disfunção nas glândulas de Meibômio afeta o filme lacrimal. Isso porque, a lágrima é composta por três camadas, sendo uma delas a gordurosa. “O sebo produzido e secretado pelas glândulas palpebrais, chamada de meibum, é essencial para a lubrificação e nutrição da superfície ocular. Portanto, problemas na qualidade e na quantidade do meibum afetam, diretamente, a estabilidade e funções da lágrima”.
“A identificação precoce da DGM é um desafio, já que sua progressão é lenta. Inicialmente, o paciente pode ser assintomático. Contudo, ao longo do tempo, a inflamação crônica que se instala nas glândulas e as alterações na produção e na secreção do sebo, podem acarretar condições como a blefarite, olho seco, calázio e terçol de repetição”, adiciona a especialista.
Causas são multifatoriais
A DGM tem origem multifatorial, ou seja, não existe uma única causa que explique seu desenvolvimento. Em geral, os fatores de risco são:
- Processo natural de envelhecimento, que altera a morfologia e funcionamento das glândulas sebáceas
- Alterações nos hormônios sexuais, como na menopausa e na síndrome do ovário policístico
- Estado nutricional
- Redução do piscar, principalmente durante o uso prologado de telas
- Uso de certos medicamentos (antidepressivos, remédios para combater a acne, anti-hipertensivos)
- infecções oculares
- Dermatite seborreica.
- Rosácea
- Atopia (alergias)
- Doenças reumatológicas
- Uso de lentes de contato
- Blefarite
- Infestação de ácaros Demodex
Definição e sinais clínicos
Os sinais clínicos da DGM podem variar, mas incluem alterações na morfologia da pálpebra, vasinhos (telangiectasias) nas margens palpebrais, ressecamento da superfície ocular, coceira, irritação, acúmulo de secreção nos cílios, visão borrada, desenvolvimento frequente de terçol e calázio e lacrimejamento.
O diagnóstico da DGM costuma ser feito durante uma consulta oftalmológica. O médico analisa a superfície ocular, o estado das pálpebras, dos ductos das glândulas meibomianas, avalia a estabilidade do filme lacrimal, além de levantar o histórico de saúde do paciente, com relato de sinais e sintomas que possam indicar a presença da condição. Existem alguns exames mais precisos, como a meibografia, por exemplo, que podem ajudar a fechar o diagnóstico.
Tratamentos para a disfunção da glândula meibomiana
O tratamento da DGM também é um desafio, já que é preciso combater a inflamação crônica, para restabelecer o funcionamento das glândulas. Em geral, nas fases iniciais, alguns medicamentos podem ajudar, como anti-inflamatórios, pomadas, além da realização da higiene das pálpebras. O uso de colírios de lágrimas artificiais e lubrificantes também pode ajudar a aliviar a secura ocular.
“As compressas quentes são bem-vindas, para ajudar a remover as secreções acumuladas, bem como amolecê-las. A limpeza das pálpebras é crucial para prevenir a proliferação de micro-organismos, como bactérias e ácaros Demodex. Contudo, esses tratamentos podem não ser eficazes para controlar as crises e prevenir episódios recorrentes de terçol e calázio”, comenta Dra. Tatiana.
Disfunção da glândula meibomiana e Luz Intensa Pulsada (IPL)
Nos últimos anos, a introdução da luz intensa pulsada na oftalmologia mudou a perspectiva no tratamento de doenças oculares, como a DGM, blefarite, olho seco, terçol e calázio de repetição.
“A IPL é aplicada em consultório, sendo indolor e seguro. O efeito térmico reduz os fatores inflamatórios, fechando os vasinhos que alimentam a inflamação, bem como amolece as secreções acumuladas nos ductos e elimina a infestação de ácaros Demodex e outros micro-organismos. Após a aplicação, o médico remove manualmente as secreções acumuladas nas glândulas sebáceas”, conta Dra. Tatiana.
“A melhora já pode ser sentida nas primeiras semanas, pois a luz pulsada combate a inflamação e, com isso, consegue restabelecer a função das glândulas meibomianas. A IPL leva à remissão dos sintomas em longo prazo, sendo recomendado realizar uma sessão anual para manutenção dos resultados”, finaliza a oftalmologista.
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Conclusão
Como vimos, embora desconhecida, a disfunção das glândulas meibomianas é bastante prevalente na população adulta, especialmente a partir da quinta década de vida. A melhor maneira de obter o diagnóstico nas fases iniciais é consultar um oftalmologista regularmente, pelo menos uma vez por ano, após os 40 anos.