A luz intensa pulsada (IPL) é hoje um dos tratamentos mais eficazes para tratar doenças da superfície ocular, como o olho seco e doenças relacionadas à disfunção das glândulas meibomianas, como blefarite, terçol, calázio e meibomite. O uso da IPL para doenças oculares é relativamente recente. Hoje, vamos abordar a história da IPL e explicar como um tratamento, criado em 1992, voltado para eliminar os famosos “vasinhos”, foi disseminado para outras patologias, como as dermatológicas e oculares.
Como surgiu o conceito da Luz Intensa Pulsada
O conceito de luz intensa pulsada (IPL) foi descrito pela primeira vez pelos dermatologistas norte-americanos, Dr. Mitchel Goldman e Dr. Thomas Fitzpatrick; e por Shimon Eckhouse, um engenheiro aeroespacial israelense que criou a tecnologia da luz pulsada. Em abril de 1992 em San Diego, nos Estados Unidos, Goldman e Fitzpatrick perceberam que a IPL era capaz de melhorar o tratamento de telangiectasias nas pernas, aqueles pequenos vasos sanguíneos dilatados sob a pele.
Após o sucesso com as veias das pernas, os estudos clínicos avançaram e, em 1995, eles começaram a tratar telangiectasias faciais, cicatrizes hipertróficas, hemangiomas e lesões venosas. Foi também neste ano que o tratamento foi aprovado pelo FDA, órgão que regula os tratamentos de saúde nos EUA. A tecnologia da IPL evoluiu e foi expandida para tratar diversas doenças dermatológicas, como acne e rosácea, por exemplo.
Como funciona a tecnologia da Luz Intensa Pulsada
A IPL usa uma lâmpada que emite um flash de luz policromática (de uma única cor), num amplo espectro de comprimento de onda, o que a torna diferente da tecnologia do laser.
A luz emitida propaga-se em várias direções e pode ser ajustada, com o uso de filtros, para ajudar no controle dos comprimentos da onda. Essa energia luminosa se transforma em energia térmica quando os fótons (partículas que compõem a luz e transportam energia) são absorvidos pela pele, processo chamado de fototermólise.
A IPL tem várias aplicações na medicina. Na área da Oftalmologia, são usados filtros específicos para o tratamento de condições como a blefarite, olho seco, terçol e calázio de repetição e meibomite.
Hoje, existem mais de 20 dispositivos IPL diferentes no mercado, voltados para diferentes aplicações na medicina.
Como a Luz Intensa Pulsada chegou na Oftalmologia
O primeiro uso da IPL, como vimos, foi no tratamento dos famosos “vasinhos”, sendo expandida para outros tratamentos estéticos e, posteriormente, dermatológicos. E como a luz pulsada foi introduzida para tratar doenças oculares?
Em 2002, o oftalmologista norte-americano, Dr. Roland Toyos, introduziu a IPL em sua clínica para tratamentos estéticos e para doenças de pele, como acne e rosácea. Ele percebeu que alguns pacientes com rosácea, que tinham também diagnóstico de olho seco, relataram melhoras nos sintomas oculares. Portanto, a descoberta da aplicabilidade da IPL na área da oftalmologia foi “acidental”.
A partir desta observação, Toyos começou a estudar a IPL para desenvolver um tipo de intensidade que fosse aplicável nas doenças da superfície ocular. Os resultados dos estudos clínicos apontaram que o efeito térmico da luz pulsada agia de várias maneiras nas doenças relacionadas à disfunção das glândulas meibomianas (glândulas sebáceas que produzem a parte oleosa do filme lacrimal).
Quando a luz intensa pulsada é absorvida pelos vasos sanguíneos, gera calor na camada dérmica. Isto ajuda a amolecer as secreções e desobstruir as glândulas meibomianas. A IPL também cauteriza os vasos sanguíneos próximos à superfície da pele. Este efeito é crucial para reduzir as citocinas inflamatórias, que contribuem para a disfunção da glândula meibomiana.
Além disso, o IPL diminui ou elimina bactérias e ácaros Demodex, envolvidos na piora da blefarite e em episódios repetidos de calázio e terçol.
Por fim, o protocolo da IPL também envolve a expressão das glândulas meibomianas, logo após a aplicação. Esta etapa é importante para retirar todas as secreções acumuladas nas glândulas, o que também ajuda a restabelecer o funcionamento delas.
IPL para doenças oculares: o que você precisa saber
Se você está considerando investir na luz pulsada para tratar doenças oculares, é bom saber que:
- O equipamento usado para as doenças oculares é específico para este fim, sendo diferente de outros dispositivos usados para fins estéticos ou para doenças dermatológicas
- A aplicação da IPL requer treinamento no aparelho e conhecimento médico a respeito das doenças que serão tratadas. No caso das doenças oculares, a aplicação é feita pelo Oftalmologista
- O tratamento demanda de 3 a 4 sessões, com intervalos de 15 dias. A recomendação é fazer uma sessão anual para manutenção dos resultados
- A aplicação pode ser feita em consultório e permite a retomada das atividades logo após a sessão
Por fim, os estudos atuais sobre a IPL para doenças oculares apontam que o tratamento é efetivo para reduzir os sintomas em longo prazo, além de ser seguro e, geralmente, sem contraindicações.