Ceratocone: Movimento Junho Violeta alerta sobre os cuidados para prevenir a doença que afeta a córnea e pode levar à cegueira
Quem nunca coçou os olhos, levante a mão! Esse hábito praticamente irresistível é muito prejudicial para a saúde ocular. Infelizmente, a fricção constante dos olhos pode causar alterações no formato da córnea que se torna mais “cônica”. A essa condição se dá o nome de ceratocone.
Segundo a oftalmologista Dra. Tatiana Nahas, a córnea é essencial para a visão. Portanto, qualquer problema em sua estrutura pode comprometer a acuidade visual. “Podemos comparar a córnea a tampa de um relógio. A luz penetra por ela, passa pelo cristalino, íris e pupila até chegar à retina. A curvatura da córnea precisa estar dentro dos parâmetros normais para que a luz atinja os pontos corretos e possa ser enviada ao cérebro para formar as imagens”.
“O ceratocone altera a curvatura da córnea, que passa a adotar um formato mais cônico. A partir disso, o paciente desenvolve o astigmatismo irregular que reduz drasticamente a acuidade visual. A doença, quando não tratada, pode progredir a ponto de a pessoa precisar de um transplante de córnea para restabelecer a sua visão”, explica Dra. Tatiana.
Ceratocone é mais prevalente na adolescência
Embora o ceratocone tenha uma baixa prevalência, é uma doença crônica e progressiva que pode causar perda visual importante nos casos mais severos. Além disso, a doença é mais prevalente em adolescentes e adultos jovens.
“Essa característica é bastante preocupante, porque o ceratocone tem um impacto muito negativo na qualidade de vida global. Além da necessidade de tratamentos médicos e de acompanhamento com o oftalmologista constante, as crianças e jovens podem enfrentar dificuldades na vida acadêmica, social e profissional”, comenta Dra. Tatiana.
Alergia e hereditariedade
O ceratocone é uma doença fortemente ligada à genética. Em cerca de 10% dos casos, os pacientes têm histórico familiar da doença. Outras causas estão ligadas a doença genéticas ou síndromes, como a trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down).
Contudo, o principal fator de risco para desenvolver o ceratocone é a atopia, ou seja, a propensão individual a apresentar reações alérgicas diversas, como rinite, sinusite, dermatite, asma etc.
“A alergia ocular é muito prevalente nas pessoas atópicas que desenvolvem conjuntivites de repetição ou até mesmo crônicas. Em alguns casos, a alergia passa a atingir também a córnea, condição chamada de ceratoconjuntivite. Esses são os pacientes que têm maior risco de evoluir para o ceratocone, comenta Dra. Tatiana.
Como a alergia ocular causa uma coceira intensa nos olhos, a tendência é friccionar os olhos com muita frequência. A partir disso, pode se desencadear uma inflamação na córnea que, por sua vez, pode alterar a organização do colágeno culminando na alteração do formato da córnea.
Sem sinal
Infelizmente, no início do ceratocone não há nenhum sinal aparente de que já algo errado com a córnea. Na verdade, os sintomas podem ser confundidos, facilmente, com os erros refrativos (miopia, astigmatismo e hipermetropia).
“Contudo, é preciso ficar atento à constante necessidade de corrigir o grau do paciente. Quando a pessoa tem um erro refrativo, não é comum que o grau mude constantemente ou drasticamente. Outro sinal é quando a pessoa começa a desenvolver intolerância às lentes de contato”, relata Dra. Tatiana.
Outra manifestação do ceratocone é o astigmatismo irregular que deve ser investigado por meio de uma topografia da córnea.
Sinais ficam evidentes nos estágios avançados
Quando a doença já está instalada, alguns sinais e sintomas se tornam mais evidentes. “A pessoa começa a sentir muita dificuldade para ver de perto ou de longe, desenvolve sensibilidade à luz, apresentar coceira, irritação, desconforto e cansaço visual. Em casos mais avançados, podemos ter a visão dupla ou ainda a poliopia, que é a percepção de muitas imagens de um único objeto.
Dos óculos à cirurgia
Inicialmente, o ceratocone pode ser tratado com lentes específicas de correção. Todavia, a deformidade da córnea é irreversível. As técnicas atuais visam ao impedimento da progressão da doença. Entre eles podemos citar o implante de segmento de anel corneano e o crosslinking.
Em média, o ceratocone leva cerca de seis anos para chegar em seu estágio mais avançado. Quando o paciente não respondeu aos tratamentos anteriores, a solução é o transplante de córnea.
Pare de coçar os olhos
A melhor maneira de prevenir o ceratocone é não coçar os olhos e manter os exames oftalmológicos em dia. Como as crianças são mais afetadas, recomenda-se levar o bebê em seu primeiro ano de vida ao oftalmologista.
As pessoas atópicas devem ficar atentas a episódios frequentes de conjuntivite alérgica. Nesses casos, o melhor é passar por consultas oftalmológicas mais frequentes para acompanhar a saúde da córnea. Essa recomendação também é válida e importante para quem tem histórico familiar do ceratocone ou ainda doenças e condições genéticas que aumentam o risco de desenvolver a patologia.